Peço a todos que irão ler esta coluna para terem atenção e que possam debater este tema com total caráter de alertar, informar e compreender todos os prejuízos aos quais os jogos de aposta online estão interferindo na vida de milhares de pessoas, gerando danos que afetam diretamente a sua sobrevivência, entendendo que todo o valor direcionado para os jogos de azar irá gerar perdas financeiras. É hora de olhar para essas pessoas como vítimas, e não como culpados dentro de um enorme esquema.

Na semana passada,, ocorreu a Sessão da CPI das BETs no Senado Federal, a qual trouxe para a mesa de questionamentos a influenciadora Virgínia Fonseca, que possui, no momento em que escrevo essa coluna, um total de 52,8 milhões de seguidores no Instagram. Virgínia é a primeira influenciadora a participar dos questionamentos sobre o tema no Senado. Ao todo, a influenciadora teve atitudes e uma posição de se infantilizar a fim de diminuir uma negatividade sobre sua imagem, e os senadores colaboraram para esta imagem, defendendo Virgínia.

Entre questionamentos e literais palhaçadas para atrasar e mudar o foco do debate sobre as BETs, sobre Virgínia e seu relacionamento com contratos para casas de apostas online que destinaram valores de R$ 50 milhões para a influenciadora, apontado pela Exame¹, nesse mesmo contrato há uma cláusula a qual destinaria 30% das perdas de apostadores que utilizassem o link divulgado pela influenciadora. Tal cláusula se encontra em vários contratos de vários influenciadores e faz sentido, entendendo que a casa de apostas só irá lucrar se houver perdas. Ela não possui nenhum outro meio de lucro, senão as perdas de seus apostadores. Continuando na Virgínia, toda a sua atuação foi em prol de não manchar sua reputação, mas não podemos nos deixar levar por um visual infantilizado. Virgínia sabe o que fez e sabe o quanto prejudicou famílias e pessoas pobres que realmente acreditaram que poderiam estar ganhando e melhorando de vida. Todo este circo armado só demonstra a forma desprezível de se esquivar e jogar a culpa para os outros.

Temos que entender de uma vez por todas que os influenciadores possuem sim culpa e total responsabilidade por direcionar seus seguidores para as casas de apostas, jogando em contas de demonstração as quais são feitas para sempre gerarem resultados de ganhos, como a própria Virgínia confirmou sobre os questionamentos da Senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS). Temos um problema grande em condenar as vítimas, dizendo que elas têm consciência, que elas sabem o que estão fazendo, que estão se arriscando a perder de pequenos a grandes valores apostando, mas vamos entender: há várias propagandas, vários influenciadores, várias pessoas dizendo que apostar é legal, é divertido, que quem faz isso pode ganhar, e é aí que entra o mal. O vício se tornou diversão em prol da ganância das casas de apostas junto aos influenciadores. Trabalhadores que recebem menos de um salário-mínimo jogam por estarem iludidos de que irão ganhar a chance de sair das dificuldades, mas que na realidade apenas gera prejuízos que são irreversíveis.

Pessoas ricas não jogam no Tigrinho, elas incentivam que pessoas pobres joguem, para ganhar com suas perdas. Vamos aos dados, os quais irão nos mostrar o crescimento de apostadores: ² o Instituto DataSenado demonstrou que homens de até 39 anos com ensino médio completo são os maiores usuários de aplicativos de apostas. 13% da população com 16 ou mais – o que equivale a 22,13 milhões de pessoas – declararam participar de apostas – as entrevistas foram realizadas 30 dias anteriores ao dia 01 de outubro de 2024. Já a CNN trouxe com exclusividade por meio da Datahub que ocorreu o crescimento de 734,6% de apostas online entre 2021 e abril de 2024. Temos o registro de empresas de apostas de 2021 de apenas 26 para 217 em 2023, representando um crescimento de 430% de empresas de apostas no país. Tendo ainda em vista que em dezembro de 2023, foi sancionada a Lei Nº 14.790/2023 a qual regulamentou as apostas de quota fixa, estabelecendo diretrizes para métodos de pagamento, atendimento ao cliente, publicidade e medidas para prevenir a lavagem de dinheiro. Em uma ação de diminuir possíveis prejuízos, foi criada a Secretaria de Prêmios e Apostas dentro do Ministério da Fazenda para fiscalizar e regulamentar as apostas.

³ O Banco Central aponta que, entre janeiro e agosto de 2024, foram gastos, por brasileiros, o valor de R$ 20 bilhões em apostas online. As perdas financeiras são estimadas em R$ 23 bilhões, apontou a Forbes Brasil, a qual visualizou o lucro de R$ 20 bilhões para as casas de apostas. O jornal El País demonstrou que o impacto na renda foi 20% da massa salarial, a qual foi inteiramente direcionada para apostas online. A Nord Investimentos aponta que cerca de 34% dos jovens deixaram de iniciar o ensino superior em 2024 devido a gastos em apostas online. No ano de 2023, brasileiros gastaram, estimadamente, os valores de R$ 60 bilhões a R$ 100 bilhões, tendo um crescimento anual de 89% desde 2020 nos gastos, demonstrado pela PwC em um artigo. 

“Cheguei a gastar mais de R$ 100 mil. O aniversário do meu filho está chegando, não tenho nem R$ 1 para dar para ele. Perdi minha família, perdi tudo, só me resta me recuperar e suportar tudo, seguindo em frente. Gostaria de ter tido, de verdade, alguém para me ajudar”.

A cada dia que passa, novas casas de apostas estão surgindo, mais influenciadores estão incentivando as apostas, mais famílias, jovens, adultos e até idosos estão destinando parte ou integralmente seus salários para apostas na esperança de aumentar suas rendas para vários fins. A cada dia, mais o vício está crescendo e a Justiça está comprada, os representantes políticos estão comprados, a imprensa está a ser comprada com patrocínios. Precisamos de fato ir contra as apostas, alertando seus riscos, alertando seus danos reais na vida das pessoas que se tornam dependentes de apostar para poder ter dinheiro.

A diversão é um vício que está prejudicando diretamente as pessoas de baixa renda, as pessoas pobres que se iludem com falsas esperanças. Desta forma, é necessária a sua participação em alertar, em desmentir, em mostrar o quão terrível é este vício para a nossa sociedade.

As apostas são mais uma forma de arrancar, de forma cruel e irresponsável, a renda das pessoas. Lembre-se, ninguém, absolutamente ninguém irá te dar dinheiro de graça sem lucrar; as casas de apostas irão e estarão lucrando de forma direta com suas perdas. De centavo a centavo, de dez em dez, de vinte em vinte, de cem em cem, não importa o valor, você nunca, jamais irá ganhar o mínimo dos valores já gastos.

E para aqueles que estão viciados, procurem ajuda, conversem, vocês não estão sozinhos, vocês são vítimas de um grande esquema de uma máfia cruel a qual apenas quer seu dinheiro em nome da ganância.

Virgínia nunca foi e será sua amiga. Carlinhos Maia nunca foi e será seu amigo. Nenhum influenciador que está divulgando qualquer casa de apostas será seu amigo. Não existe isso de "Eu não sabia", e "Culpa da Agência", "Não estava no contrato", "Eu não queria prejudicar ninguém"; eles sabem o que fazem, sabem onde estão se metendo. Não tenha dó de quem tem tudo, de quem é rico, porque eles nunca terão dó de você.

Se pensar em apostar, pare e faça outra atividade, leia, assista algo, faça qualquer coisa, mas não aposte. Porque como vimos antigamente, o ato de fumar era legal e divulgado na TV, as empresas fabricantes de cigarros lucraram por muitos anos, mas quando a proibição de fumar em vários locais, desde públicos a privados, os comerciais e falas de pessoas famosas na TV sumiram, demonstrando o cigarro como algo bom, o número de fumantes diminuiu junto ao número de pessoas com doenças relacionadas ao cigarro. Então é a hora de forçar nossos políticos, agora em 2026 com as eleições, cobrando diretamente, de forma firme, de forma concisa, de forma a obrigar que eles regulamentem e acabem com a farra das bets em prol da sobrevivência, da saúde, da renda, da vida de milhares de pessoas, de jovens que estão realmente indo contra seu próprio futuro por pura ilusão e distorção da realidade.

“Sempre via anúncios de apostas. Seguia um influenciador que toda hora anunciava que aquela plataforma ia dar muito dinheiro, mas devia ser com o link dele – aí não resisti, a curiosidade misturada com a vontade de ter mais dinheiro me levaram a baixar o aplicativo. Me cadastrei, joguei, e de lá para cá já perdi mais de R$ 40 mil. Já reconheço que sou viciada, já pensei em abandonar tudo, em sumir ou até tirar minha vida, mas resisto porque tenho pessoas ao meu lado, tenho família, tenho dois filhos e logo terei mais um precioso nesse mundo e te digo, jamais irei deixar que ele possa se aproximar de qualquer jogo de aposta. Não vou desistir por mim, por meus filhos, por minha família, quero e irei lutar!”

“Apostas são terríveis, perdi meu irmão por causa de apostas. Deixou família, deixou uma filha de três anos – tudo por causa de apostas. Tudo isso é uma praga que deve ser combatida e colocada na ilegalidade”.

“Com a ajuda de minha família, meus amigos, de pessoas boas na internet como o Felca que falou sobre apostas, pude realmente largar este maldito vício. Perdi muito, muito dinheiro... e estou devendo muito, chega a R$ 15 mil, peguei empréstimo, cheguei a uma fase de passar fome, de não ter mais nada, de quase perder tudo... mas agora estou firme e forte, estou lutando , estou persistindo graças à ajuda de pessoas que realmente me compreenderam, não me julgaram, quiseram e me fizeram parar”. 

Eu deixo aqui que irei lutar contra os jogos de azar, contra as apostas. Não sou super popular, não tenho milhões de seguidores, nem uma comunidade inteira, mas irei usar da influência que tenho para ajudar, para acolher e mostrar que há um caminho para resistir e lutar contra este vício maligno. Vamos juntos superar, vamos juntos lutar.