O mal do século XXI chegou a Otacílio Costa. Há crescentes relatos de pessoas que, movidos por depressão, perdas emocionais ou sentimentos como remorso, atentam contra a própria vida.

Segundo Robson Oliveira Medeiros, diretor do Hospital Santa Clara, em Otacílio Costa, dois pacientes dão entrada na unidade, por mês, por tentativa de suicídio. Para ele é necessário tratar a saúde mental das pessoas de forma urgente, porém muitas dificuldades surgiram com o fechamento de algumas clínicas perto de nós, como a de Lages e a psiquiatria da Bocaina.

Ainda de acordo com ele, o hospital, que atende pacientes de Otacílio Costa e da Palmeira, tem registrado mais casos de tentativa de suicídio por mulheres na faixa etária de 20 a 50 anos. "A maioria das pessoas que tentam dar fim em suas vidas utilizam medicamentos e álcool como o meio para isso", informou o diretor.

"Eu pensei em suicídio, mas ouvi a voz de Deus e logo aquela ideia saiu da minha cabeça".

A frase acima é da otaciliense Maria Luiza da Cruz Alves, 56 anos. Casada, mãe de dois filhos e avó de quatro netos, ela compartilhou sua luta contra a depressão, que já dura alguns anos.

Luiza, como é chamada, faz tratamento com psiquiatra e já foi acompanhada por um psicólogo. Ela conta que não entendia a razão da doença, mas revela que a fonte é uma perda na família. "Eu não sabia explicar o porquê da depressão. Enterrei uma prima que eu amava muito e toda vez que a visitava no hospital eu saia mexida", comenta.

"Eu não saia da cama. Sempre ajudei meu marido na reforma da casa, mas com a depressão não queria fazer nada. Fomos ao médico juntos e lá ele ouviu do médico que meu grau de dor era 10", conta, dizendo que foi neste momento que o esposo entendeu que ela estava depressiva, doente e precisava de ajuda.

O apoio da família tem sido muito importante para a evolução do tratamento. "Meu marido entendeu pelo que eu estava passando e pediu a demissão do serviço para ter mais tempo para cuidar mim", afirmou.

Uma outra entrevistada, que pediu para não ter o nome divulgado, passou recentemente pela situação de ter um parente que tentou o suicídio. "A gente se sente impotente, pois é uma pessoa da família. Fiquei me perguntando como eu não percebi que isso ia acontecer", comentou. A jovem prosseguiu dizendo que, se alguém está pensando em tirar a própria vida, precisa lembrar que existem pessoas que se importam e se preocupam com ela.

Reativar os vínculos é uma das melhores formas de prevenção, diz psicóloga

Para a psicóloga clínica Helen Schauffert, a estratégia é eficiente, uma vez que o suicida precisa sentir que tem em quem confiar. "Os familiares de pessoas com ideias suicidas devem buscar reativar os vínculos perdidos. É preciso que a pessoa sinta que tem em quem confiar e que se sinta, acima de tudo, querida e amada pelas pessoas que as cercam", afirmou.

Ela chama atenção para o fato de que muitos fatores podem levar uma pessoa a buscar o suicídio, porém, é possível aos familiares identificarem alguns. "É preciso ficar atento para o histórico de vida da pessoa e perceber possível quadro de depressão, humor apático, sentimento de "vazio" ou incapacidade, solidão ou afastamento social e perdas sociais, como desemprego, ou perdas familiares", alertou.

Otacílio Costa e Palmeira contam com grupos de apoio e prevenção contra o suicídio

Considerado um problema de saúde pública, os municípios de Otacílio Costa e Palmeira possuem grupos de apoio para as pessoas que precisam de ajuda na luta pela vida.

Em Otacílio Costa, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) oferece acompanhamento por psicólogos, grupos específicos de apoio, onde diversos temas são abordados, além de ações voltadas para promover o diálogo e compartilhamento de experiências, que buscam proporcionar aos participantes um meio de contornar as causas que podem levar ao suicídio.

Em Palmeira a Secretaria de Saúde realiza o Projeto Roda de Conversa para troca de experiências e partilha de sentimento, também com várias temáticas e ações voltadas para a promoção do fortalecimento de vínculos, ajudando os participantes a resgatarem o apreço pela vida.