
Coluna publicada no dia 3 de julho
Nos últimos dias, participei do Compol Brasil, o maior encontro de comunicação política do país. Um evento grandioso, repleto de gente que pensa, comunica e molda o discurso público nos bastidores da política nacional. Um festival de apresentações milimetricamente preparadas, cases de sucesso, bastidores de campanhas e estratégias de convencimento que se espalham como pólvora nos feeds e nas urnas.
É fácil, num ambiente assim, cair na tentação de pensar que a política se tornou uma equação de algoritmos, slogans e impulsionamento. Que o convencimento se faz com edição de vídeo, e que o eleitor é apenas um funil a ser convertido. Mas o que vi — e vivi — ali foi mais complexo.
Entre um painel e outro, entre as luzes e os dados, percebi uma movimentação silenciosa e, por isso mesmo, poderosa: a de profissionais que ainda acreditam que comunicação política pode ser ponte, e não maquiagem. Que narrativa pode ser compromisso, e não apenas performance.
Em meio ao culto à estética — inevitável nesse meio — havia também uma busca por significado. Um incômodo ético pairando no ar. Porque, no fundo, todo comunicador político sério sabe: storytelling sem propósito vira estelionato emocional.
É verdade que há exageros, distorções e até desvios — como em qualquer setor. E sim, ainda há muita gente tratando o eleitor como alvo, não como cidadão. Mas ali também estavam os que entendem que a boa comunicação política não serve para criar personagens, mas para revelar intenções.
Não é sobre “como fazer alguém parecer honesto”. É sobre tornar compreensível a honestidade de quem já é.
Não é sobre montar um candidato para vencer. É sobre traduzir o que ele realmente representa — e fazer isso com verdade, coragem e clareza.
No Compol, vi gente tentando fazer isso. E saí de lá com a certeza de que esse esforço — embora seja menos chamativo que os memes e os bordões — ainda pode vencer no final.
A política brasileira precisa se comunicar melhor, sim. Mas antes disso, precisa querer ser melhor.
Não basta ter marqueteiro. Tem que ter missão. Não basta viralizar. Tem que entregar. Não basta emocionar. Tem que transformar.
O eleitor brasileiro, que está cansado de ilusões e encantamentos baratos, talvez ainda esteja à espera de algo raro: um discurso que não o trate como massa de manobra, mas como parte do movimento. Talvez, no fim das contas, seja essa a real missão da comunicação política: ser ponte entre o possível e o necessário — e não só trampolim entre o candidato e o cargo.
No Compol, vi que essa ponte pode ser construída. E isso, nesse cenário de descrença generalizada, já é um feito. Porque num país onde tanto político veste personagem para se eleger, quem comunica com propósito já começou a governar — mesmo antes do voto.
Deixe seu comentário