
Coluna publicada no dia 17/07
As últimas semanas foram de andanças por futuros parques solares na Bahia. Contudo, como já falamos bastante do Nordeste e de energia solar, esta contextualização se justifica por dois motivos.
Primeiro porque um amigo de lá me presenteou com um livro. Não qualquer livro. Um livro já bastante usado, marcado e com muitas anotações. Um presente daqueles que obriga que todas as demais leituras sejam temporariamente interrompidas. O que também não é lá nenhuma novidade, pois de vez em quando, me pego lendo dois ou três livros em partes. Hábito do qual não gosto, mas enfim, acabo relevando. O fato é que o livro veio com uma recomendação — ou melhor, uma solicitação específica. “Leia esta parte, ela tem o poder de reciclar pensamentos”; e assim o fiz.
Segundo, porque nuns dos mais de mil quilômetros rodados pelo interior nestas ditas semanas, acabei tomando um caminho de estrada de chão muito longo (150km). Perdido no meio dessa empreitada — às 15h, com fome e sede — pedi informação a uma família muito humilde, cujo marido estava trabalhando numa roça de milho. Jamais fotografo esses momentos — não há imagem que consiga capturar a generosidade do sertão nordestino. Após algumas conversas sobre a dificuldade de encontrar pessoas para trabalhar e da importância de educar os filhos – e de uma garrafa d’água - despedimo-nos. Mas não sem antes ouvir aquele conselho que também consta do dito livro: “Aceitar o trabalho humilde é melhor que passar fome”.
Enfim, esses dois casos me lembraram que tenho um sonho antigo de também escrever um livro. Não de memórias (rs) e nem de autoajuda (detesto). Mas algo que desse conselhos sobre a vida profissional. Personagens que falariam do mundo da indústria e das obras, que em contextos simples descreveriam questões técnicas complexas: quem sabe um dia. O caso é que não posso ignorar esses dois fatos aparentemente desconexos, falando sobre o mesmo livro. Relendo-o, separei para esta nossa conversa de trabalho alguns poucos trechos:
Um pai cheio de amor, disciplina o seu filho (Vale para colegas de trabalho, adoro esse).
A sabedoria tem mais valor do que o ouro.
Ouça a instrução do seu pai e nunca despreze o conselho de sua mãe.
O tolo acredita que sua opinião é sempre a certa (impagável!).
O sábio ignora o insulto; já o inexperiente acredita em tudo o que ouve.
Não diga: “Passe aqui amanhã e eu lhe ensinarei algo”, se puder fazê-lo hoje.
Inveja destrói a saúde. Pense antes de fazer, não espalhe a discórdia e controle sua língua (vale também para o pequeno mundo das obras: antigos colegas se reencontram).
Ao preguiçoso a pobreza chegará rápido. Quem se esforça, chegará à liderança.
Para quem está de barriga cheia, até o mel mais doce não tem valor.
Fique longe das prostitutas e não peça favores às autoridades.
O dinheiro que vem fácil, vai fácil.
Quem casa, quer casa. Arrume sua vida, depois se case.
Não procure brigas e nem fique contando vantagens sobre si mesmo.
A sabedoria está em todo lugar e quer ser ouvida.
Os tolos desprezam o conhecimento, não tente usar argumentos com eles.
E a minha nova parte predileta, que já havia lido e ouvido algumas vezes — principalmente quando criança — é esta: “É melhor comer um pedaço de pão seco e viver em paz, do que um banquete numa casa em que reine a briga e a discussão. Pode haver muitas esposas exemplares neste mundo, mas eu tenho certeza de que nenhuma delas é melhor que você”: Ana Cláudia.
Entre tantas teorias que já ouvi sobre quem e como escreveu esse livro e sobre quais interesses teriam motivado alegadas alterações, me peguei pensando: que isso realmente importa?
Lendo esses conselhos, úteis há tanto tempo e para tão diferentes trabalhadores e serviços, que importam essas maledicências? Se algo escrito há tanto tempo é capaz de tornar pessoas melhores do que eram antes da leitura, que realmente importa quem as escreveu e por quê?
Um livro é como uma boa conversa: não responde tudo — mas nos convida a seguir pensando.
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