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Coluna publicada no dia 10/17

Lucas era uma criança que carregava inseguranças e um vazio de propósitos que o levaram ao encontro do cigarro aos 12 anos, para se sentir melhor... Como uma coisa leva a outra, já que o primeiro vício não preencheu as lacunas existenciais, ele resolveu ‘curtir outro barato’ aos 18 anos. Desde então foi só ladeira abaixo. 

A ilusão de que as drogas ajudariam a suportar o sofrimento trouxe outros dissabores: novos vícios e os perigos inerentes a eles. Em busca de uma saída – sim, ele queria sair daquilo – procurou alternativas para viver sem drogas; pois constatou serem elas uma escolha infeliz para fugir dos problemas.

Em 2022, Lucas Henrique Silva criou um perfil nas redes sociais para documentar a caminhada da abstinência. Noites em claro com dores no corpo, agonia, pensando em como e onde poderia encontrar alguma alegria. Cinco meses ‘limpo’ e o espaço dado a um trago levou-o a uma rotina em que a cachaça e a cocaína o dominavam.

Depois de muito tempo desempregado conseguiu emprego, mas gastava tudo em drogas. Sentia que se maltratava: olhos fundos, muita dor no peito e na cabeça, nem sentia fome. Isso tudo acabou no fim de 2024. A sua cura estava num lugar que ele jamais imaginara: a leitura. 

Temos ouvido piadas que os defensores do porte de armas fazem quando alguém diz que é preciso mais livros e menos armas. Alegam que se uma pessoa for atacada por um assaltante, teria apenas um livro para se defender...

Não é preciso muito estudo para perceber que se crianças e jovens tiverem a leitura como companheira, eles aprenderão mais e melhor a se defender das armadilhas das drogas e da violência. O uso dos livros prepara o cidadão, já o uso de armas...

No livro ‘Capitães de Areia’ Jorge Amado fala da pobreza, violência e marginalização vividas por um grupo de crianças e adolescentes que vivem nas ruas de Salvador - Bahia, no início do século XX, sobrevivendo de pequenos furtos e delitos. Não é uma leitura fácil, nem tem final feliz. O abandono na infância, a desigualdade social, a injustiça e a luta pela sobrevivência são temas deste clássico da literatura brasileira, que se torna leitura atual e necessária, 88 anos após sua primeira edição.

Sem ter o hábito de ler, Lucas foi conquistado por uma história no local mais improvável para ele naquele momento: nas páginas de um livro. Como uma coisa leva a outra, ele buscou outros livros para neles se perder e conseguir deixar as drogas de lado. A prioridade agora era outra.

Na internet, Lucas faz resenhas literárias, lembrando de falar da dureza que é ficar longe das drogas, pois a luta contra os vícios precisa ser travada todos os dias, a todo momento. Ele já tem um bom público nas redes e lá do interior do Paraná planeja cursar Psicologia. Ele tem planos!

Pai e mãe lhe dão suporte emocional para batalhar contra a depressão -  este é o pior buraco existencial em que o ser humano pode cair. Lucas tem convicção de que além do prazer que os livros lhe dão, eles são o motor e a causa de sua salvação.

No ano dos seus 26 anos, Lucas comemora cada vitória conquistada como pessoa que recuperou a saúde física e mental. Somente uma pessoa saudável consegue ter sonhos, fazer planos para o futuro. Se são os livros que lhe permitem sonhar, que lhe dão motivo para não desistir, é porque a frase “livros são abelhas que levam o pólen de uma inteligência a outra” talvez não seja só uma metáfora. Que haja mais livrarias e bibliotecas do que a oferta de armas ainda é um sonho!

Fonte pesquisada:  Texto A Literatura me Salvou – Depoimento de Lucas Henrique da Silva a Duda Monteiro Barros. Revista Veja de 27 de junho de 2025. São Paulo/SP. Editora Abril.


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