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Coluna publicada no dia 03/07

Estava saindo de uma agência bancária quando um senhor — que também saía — me abordou dizendo:

“Meu filho, esse mundo não é mais pra nós. Se o cabra não conhecer um celular, não faz nada.”

Ele devia ter uns 50 ou 55 anos. Aparentava uns 70. Corpo magro e forte, aquele rosto sofrido de trabalhador do interior do sertão de Pernambuco. E continuou:

“Até pra fazer o documento da moto é código, é imagem... A identidade também. Isso é só pra poder roubar a gente. Se o cabra não tiver um filho ou alguém que ajude, como vai fazer?”

Nem sei há quanto tempo não entrava numa agência bancária. Mas sei que odiava aqueles depósitos em envelopes. A vida digital e as mudanças frenéticas que nos foram impostas nas últimas décadas foram, até que relativamente, palatáveis para mim. Contudo, percebo cada vez mais que essa “educação digital” não foi tão democrática quanto deveria.

Confesso que, depois de assistir à reunião da câmara ontem, eu estava meio sem ideia sobre o que conversar com você nesta semana. Mas essa produtiva conversa de um minuto foi tudo o que precisávamos. Por favor, acompanhe comigo, querido leitor.

Semana passada o IBGE liberou os dados do Censo. Nossa taxa de natalidade foi de 1,55: a mais baixa de nossa história. Uma taxa de 2 e alguma coisa é o que se chama nível de reposição populacional, ou seja, mantém a população estável. Abaixo disso, ela tende a diminuir.

As quedas na taxa de natalidade são uma realidade não só do Brasil, mas mundial — independentemente do contexto político ou econômico. Porém, a nossa ficou mais baixa que a americana (1,7) e que a francesa (1,8). Então vejamos o primeiro problema que vai martelar a nossa cabeça: quem serão os filhos que educarão digitalmente esses nossos brasileiros mais velhos? E não esqueça: nós também viveremos mais tempo.

Ok, calma. Vamos ao segundo problema. Podemos dizer que essas taxas diminuíram com o aumento da escolarização, que — devido ao mercado de trabalho — as mulheres têm filhos mais tarde (quando os têm), ou que se deve à difusão dos métodos contraceptivos... Enfim, qualquer que seja o motivo (ou a soma dos motivos), podemos crer que dificilmente voltaremos aos patamares de 1960, quando a taxa de natalidade brasileira estava acima de 6.

Dito isso, criar menos filhos deveria ser mais fácil — e mais barato. Mas todos aqueles que são pais sabem que essa conta não é tão simples. Nesse ponto, chegamos ao segundo problema: a educação dos nossos filhos agora é melhor do que a educação que nossos pais tiveram?

É bem provável que países que já eram desenvolvidos — e que já voltavam todos os seus esforços à educação — o façam muito mais agora. Dominam a revolução digital, a inteligência artificial, o mercado financeiro, a robótica, e por aí vai. E nós, brasileiros, como estamos nessa corrida?

Algum tempo atrás, numa de nossas conversas, comentamos que, enquanto em 2018 14% dos jovens de 15 a 29 anos estavam na condição de analfabetos funcionais, em 2024 esse índice subiu para 16%. Ser um analfabeto funcional significa saber ler e escrever, mas ser incapaz de entender — por exemplo — um contrato de empréstimo consignado. Não tenhamos dúvidas de que essa é uma das características da nossa população que permitiram aquele roubo assombroso ao INSS:

Pessoas idosas excluídas da vida digital, aliadas à incapacidade de leitura dos mais jovens.

O cenário parece apocalíptico: idosos perdidos sendo roubados, população adulta correndo feito louca para tentar manter a cabeça fora d’água e jovens analfabetos.

Querido leitor, peço-lhe calma novamente (na verdade, estou pedindo a mim também essa calma).

Vamos lá: se estamos lendo este texto, significa que lemos outros também. Se lemos e repassamos, melhoramos um pouquinho nossa condição humana. Todos aqueles que se esforçam para realmente ensinar algo de bom e útil a alguém não só melhoram a si mesmos, como também melhoram o ambiente ao seu redor.

Se o leitor pensar em outra solução, por favor, compartilhe.

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